quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Haiti: Onde está a "poderosa" Igreja Brasileira!!!




Alan Brizotti

As cenas são chocantes: corpos espalhados pelas ruas, gritos sufocados sob escombros, o desespero por uma garrafa de água. Correria, violência, dor. Imagine, por um momento, o que significa olhar ao redor e perceber que tudo aquilo que você chamava de "vida", acabou. Casas e suas pessoas agora são pó e lembranças. As ruas são apenas a mistura estranha de mortos e destroços. Não encontro outra palavra a não ser: devastação.

Um cinegrafista amador captou o momento em que uma mulher, atônita ao observar as chamas de um prédio destroçado bradou desesperada: "o mundo está acabando!" Paradoxo intrigante: começa um novo ano, acaba o mundo dela. Em lágrimas, procurei por pessoas que nunca conheci. Chorei por crianças que nunca abracei. Tentei encontrar meios para, de alguma forma, minimizar o que é absurdo.

Lembrei de Jeremias em suas Lamentações. A devastação de sua amada terra fez seus olhos derramarem-se em fontes. Chorei pelos haitianos porque somos todos humanos, fronteiras, nomes e "raças" são apenas criações imbecis que abraçamos só para dificultar nossos esforços na convivência. Somos todos filhos do pó, filhos da Mãe Terra, filhos amados do Pai. Chorei não apenas como um brasileiro sentado em seu confortável sofá numa distância segura do caos, mas como um humano aflito cuja mesma distância apenas apavora ainda mais.

Em meio a todo o caos, uma fúria me invadiu: onde está a "poderosa" igreja? Aquela que berra todos os dias na televisão sobre seus poderes para curar, exorcizar e angariar muita grana! Aquela dos mega-pastores, mega-empresários, mega-pregadores, mega-cantores, mega-patifes! Aquela dos endinheirados bispos do poder! Aquela dos magnatas da fé que enganam, distorcem as Escrituras e, sob a fachada do sobrenatural, escravizam mentes ávidas pelo espetáculo!

Vejo uma grande mobilização de governos, entidades não-governamentais, civis, a igreja católica e suas pastorais, mas não vejo nada da Poderosa Igreja Evangélica Brasileira! Pense bem no que vou escrever agora: se essa tragédia não servir para mudar radicalmente os rumos da teologia triunfalista da atualidade no Brasil, descretamos a nossa morte!

Depois das atrocidades da Inquisição e do Nazismo, a teologia cristã experimentou novos rumos, se o Haiti e sua absurda tragédia não nos sacudir os alicerces teológicos, é porque já estamos tão mortos quanto os que entram na crescente estatística macabra do terremoto. Quanto dinheiro as igrejas evangélicas brasileiras movimentam por mês? Quanto se gasta com o luxo miserável dessas "pseudo-elites" tupiniquins travestidas de cristãos?

Assim como hoje julgamos pesadamente a Inquisão e o Nazismo, nos julgarão daqui a alguns anos pelo descaso com a natureza, pela insensibilidade com os que sofrem e pela farsa que toleramos socialmente todos os dias.


Vou chorar mais um pouco...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Haiti Clama por Paz, Libertação e Vida

Resolvi postar um artigo sobre o Haiti, já que a desgraça que este povo tem sofrido não pode passar batido. O texto a seguir não é novo, é de março de 2007, escrito por um coordenador de missões da JMM, mas nos dá um panorama de como estava a igreja nesse país. O que mais me impressiona é que nem todo o dinheiro do mundo pode ajudar esse país se esse povo não se arrepender.  O que pode nos dar a falsa impressão de sermos mais “crentes”, mais “convertidos”, o que também não é verdade. Mas pode sim nos dar uma visão de como somos egoístas e religiosos, a começar por mim. É tão bom termos a certeza da salvação, mas já parou pra pensar que de uma só vez pelo menos 100 mil pessoas podem ter ido pro inferno. Será que nós, religiosos, queremos pensar sobre isso?
Que o Reino de Deus se estabeleça sobre o Haiti.


Haiti Clama por Paz, Libertação e Vida
No mês de dezembro de 2006 tivemos a oportunidade de visitar o Haiti. Já há alguns anos esse país tem sido alvo das orações e dos planos da Junta de Missões Mundiais para que se torne mais um campo missionário dos batistas brasileiros.
Foram oito dias de experiências marcantes que de muito valerão para nosso ministério e futuras relações entre os batistas do Brasil e do Haiti. Religiosidade, pobreza, alegria. Assim podemos caracterizar a vida do povo haitiano.

Religiosidade
A primeira impressão que tivemos do país é que se trata de um povo extremamente religioso. Logo se vê carros, casas, comércios e outros estabelecimentos que levam temas e versículos bíblicos. É comum encontrarmos nos carros expressões do tipo: “É do Senhor”, “Deus me deu”, “Jeová é a nossa força”, “Não esqueças que és pó”. Não é difícil ver fachadas com palavras como “Alfa e Ômega”, “Deus é o Senhor”, “Amor de Deus” etc. Além disso, é possível ver, nas manhãs de domingo, um número elevado de pessoas acorrendo às várias igrejas da cidade, sejam católicas ou evangélicas.
Presume-se que o Haiti tenha cerca de 30% de evangélicos, e isso pode ser confirmado pela quantidade de igrejas espalhadas por todo o país. São Igrejas Batistas, Assembléias de Deus, Metodistas, Igreja do Nazareno, Igreja de Deus, Congregacional, Presbiterianas, entre outras. Em geral, as igrejas são tradicionais, seguindo modelos americanos de culto, embora haja muita alegria e liberdade na expressão litúrgica, no típico estilo africano. Há pelo menos quatro missões batistas estabelecidas no país: Missão Evangélica Batista do Haiti (UEBH), Missão Evangélica Batista Luz do Haiti (UEBLH), Convenção Batista do Haiti (CBH) e Missão Evangélica Conservadora do Haiti (MEBH), além de igrejas independentes espalhadas por todo o país. Fato interessante é que, como outras igrejas evangélicas, as missões batistas têm hospitais, escolas, faculdades, seminários, além de vários projetos sociais. No passado os missionários norte-americanos em muito contribuíram para essas missões, sendo reduzido hoje o número de obreiros presentes no país.

Pobreza extrema
O Haiti é o país mais pobre das Américas. Grande parte da população vive com menos de dois dólares (R$ 4,20) por dia. Cerca de meio milhão de crianças estão fora da escola e existe menos de um médico para cada 10.000 habitantes no país. Fora os países africanos, é o que tem o maior índice de contaminados pelo vírus HIV. O analfabetismo é alarmante, alcançando 60% da população. Andando pelas ruas da capital, Porto Príncipe, pode-se ver de tudo. A feira livre – onde se vendem desde roupas até comida e animais – funciona ao lado de montanhas de lixo em ruas cheias de lama. Uma multidão divide os espaços com carros e animais, sendo comuns os congestionamentos infindáveis. Mulheres lavam roupas nos poucos rios do país, outras cozinham a parca comida de que ocasionalmente dispõem.

O desafio
Apesar da forte presença evangélica no país, o Haiti é um grande desafio. A pobreza material, somada à carência espiritual, é uma realidade. O povo é religioso, mas está distante do Deus vivo. O vodu (desenvolvimento do espiritismo e da feitiçaria da África Ocidental, parecido com o candomblé) é a religião tradicional do país, sendo praticado por todos os círculos sociais, atingindo inclusive os crentes (é comum estes não quererem falar sobre o assunto quando são indagados). Já os não-cristãos temem o poder dos feiticeiros e dos espíritos familiares que podem transformar um desobediente em zumbi (espécie de morto-vivo que se torna escravo do sacerdote vodu). O Haiti vive imerso na miséria material em parte decorrente da escravidão espiritual que há séculos assola
a nação.
As igrejas ainda não conseguiram influenciar decididamente a sociedade haitiana e necessitam de uma nova visão de ministério, baseada no discipulado e na libertação do medo dos espíritos. Além disso, precisam de ajuda para cumprir a sua missão social, aliás, marca característica daquelas igrejas (muitas têm, ao lado do templo, uma escola primária). A juventude haitiana vive, em geral, à margem das oportunidades, sem muitas perspectivas e tornando-se alvo frágil frente às drogas e à prostituição. A presença de organizações não-governamentais (ONGs) é sinal de que minorar a pobreza daquele povo deve estar nas prioridades das missões estrangeiras.
Mayrinkellison Peres Wanderley
Coordenador da Região das Américas da JMM